"Corria o ano de 1976. Tinha 19 anos. Um belo dia soalheiro de maio estava a dar lugar ao lusco-fusco. Como habitualmente, as minhas viagens eram feitas de mota de casa para o trabalho e vice-versa. No dia 28 de maio não foi exceção. A partir desta data tudo se alterou: ao subir uma estrada ingreme um trator desorientado veio para cima de mim e projetou-me por uma ribanceira abaixo. Fui deixado durante alguns minutos ao destino. Momentos depois alguém me socorreu e solicitou uma ambulância para ser transportado para o Hospital da Guarda. Mais tarde fui para Coimbra. Aqui permaneci durante um mês e meio. Fizeram-me algumas intervenções cirúrgicas. Tudo parecia correr com normalidade. A exceção foi o membro superior esquerdo. Uma paralisia total do plexo braquial estava diagnosticada. Ainda sem saber como reagir, as dores, embora de fraca intensidade, começavam a incomodar-me. Com uns analgésicos ia disfarçando a dor. Durante largos anos foi assim. Fui para um hospital de Lisboa, mais concretamente, para o hospital “Nossa Senhora de Fátima, na Parede. Aqui onde estive a fazer fisioterapia durante um ano e meio. A dor estava controlada com analgésicos. Passado esse tempo vim para os Açores. Fixei-me em São Miguel, onde tive conhecimento da Unidade de Dor, cita no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada. Foi neste lugar que onde conheci a Dra. Teresa Flor de Lima na Unidade de Dor. Fui acompanhado e medicado por ela durante anos. Os benefícios foram magníficos. Numa escala de 0 a 10 a intensidade da minha dor foi diminuindo, mesmo a dor irruptiva que aparecia inesperadamente, situando-se entre 3 e 6. Com o decorrer dos anos Fui melhorando os meus conhecimentos sobre a minha dor. Para isso, recorri recorrendo a registos, lendo artigos, sobre a dor e dialogando com a equipa multidisciplinar da Unidade de Dor, praticando fisioterapia, e prática de exercício físico. Atualmente a dor está parcialmente controlada. Contudo, esse O controlo da minha dornão é linear, pois ela aparece quando menos se espera. A com a mudança repentina do tempo e com a influência esse aparecimento. O do meu estado de espírito. também condiciona o controlo da dor. O otimismo e o baixo nível de ansiedade são, entre outras, condições indispensáveis à atenuação da dor. Familiar e socialmente a minha dor foi razoavelmente compreendida, pois, muitas vezes, o que se sabe não é o que se sente. Em colaboração com outras pessoas, contribuí para o aparecimento da Associação de Doentes de Dor Crónica dos Açores, a primeira em Portugal e a segunda na Península Ibérica, que muito contribuiu para o alívio da dor. Para concluir, pode haver doenças mais prioritárias do que a dor, mas é fundamental não a desvalorizar nem menosprezar o sofrimento que ela provoca às pessoas que padecem desta patologia e que afeta milhões de pessoas em todo o mundo."
Presidente da Direção da ADDCA
Presidente da Direção da ADDCA